A Saga dos Sanglard
Hoje vamos contar
Uma história diferente
De um herói competente
Que saiu de sua terra
Atravessou o continente
Veio parar no Brasil
Onde cidade construiu.
Nosso herói é o Mathieu
De sobrenome Sanglard
E profissão “potier”
Aqui ajudou a fundar
Um município brasileiro
Lá no Rio de Janeiro.
O interessante é contar
Tudo desde o início
Quando a Europa enfrentava
Um tempo muito difícil.
Napoleão Bonaparte
Querendo aumentar seu império
Lutou, matou e invadiu
Muita gente ele faliu.
Isto tudo aconteceu
No sidos de mil e oitocentos
Quando a Europa viveu
Uma crise sem igual
Onde tudo era mal.
Bonaparte guerreava
A miséria imperava
Como se não bastasse
A peste também chegava
Matando e dizimando
Aquele povo sofrido
Mesmo assim aguerrido.
Até mesmo a Suíça
Que era um país neutro
Foi também atingida
Pela crise homicida.
Muitos camponeses
Abandonaram sua terra
Indo tentar a vida
Num país sem guerra.
Aí surgiu a esperança:
Brasil um país tropical
Com praia, sol e carnaval
Precisava de gente e trabalho
Que ajudasse a colonizá-lo.
Dom João VI muito esperto
Uniu o útil ao agradável
Juntou mão de obra barata
Com povo belo e saudável
Que fugia da crise
De um continente instável.
Só de suíços, uns quinhentos
Mas veio também alemão
Pra mais de setecentos
Todos aqui uniram
Com vontade e muita garra
Ajudando o crescimento.
No início, decepção
Para os povos do cantão.
Embora a terra prometida
Fosse linda e parecida
Com a Suíça nunca esquecida
Havia quase nada
O solo era pouco fértil
Ferramenta não existia
Isto tudo exigia
Muito mais dói que devia
Daquele povo suíço
E também do alemão.
Mas nada era em vão
Pra aquela gente do cantão.
Com coragem e tenacidade
Enfrentou dificuldade
Fazendo crescer a cidade
Cujo nome foi escolhido
Pra ficar bem parecido
Com a terra do chão querido
Que foi deixada prá trás.
Friburgo era a terra de lá
Por que não Nova Friburgo
Esta cidade de cá?
Desde a viagem, no mar
Antes de chegar à Bahia
Mathieu sobressaía.
Era amigo, companheiro
Dava conselho o tempo inteiro
Ajudava os desanimados
Encorajava os amofinados
Demonstrava fé, esperança
Neste Brasil de bonança.
Ele não vinha só
Trazia junto consigo
A mulher Therésè Fegate
Que lhe preparava o mate.
Vinham também os filhos
Godofredo, Conrado, Catarina e Francisco
Todos com nome francês
Que foram traduzidos
Logo para o português.
Do Godofredo o mais velho
Não se tem muita notícia
O resto, no entanto
Sabe-se, por enquanto,
Que todos se casaram
E se proliferaram
Para além das fronteiras
Do Rio de Janeiro
Indo se instalar
Em terras de aquém-mar.
Uns foram pra Minas
Outros além das gerais
Descobriram muito mais
Que a agricultura
Estudaram, tiveram cultura
Um deles, até mesmo
Foi fazer escultura.
Enfim, o certo é o seguinte
Esta gente dos Sanglard
De qualquer lado que está
É gente hospitaleira
E muito trabalhadeira.
Mesmo tudo espalhado
Neste Brasil de mundão
Todo ano faz questão
De reunir o cantão
De suíços brasileiros
Numa confraternização
Onde todos são irmãos.
Eu, nesta idade
Me pergunto, sem maldade
Será que não era melhor
O velho Patriarca
Ter ficado onde estava?
Afinal, hoje a Suíça
É “paraíso fiscal”
E nós aqui nesta terra
Dando duro infernal.
Será que estaríamos bem
Se lá morássemos também?
Não, não dá prá reclamar
Desta terra, deste sol
Deste rincão brasileiro
Que nos formou por inteiro
Homens, mulheres, crianças
Vivos, com esperanças
Que nos formou por inteiro
Parte de um grande povo
De um povo brasileiro.
Autora: Vilma Fazito – Belo Horizonte – Julho de 1996